Quando pronunciados com clareza, os sons “dah” e “bah” são fáceis de diferenciar. Mesmo assim, se você passa uma cena de filme onde a trilha sonora diz “dah” enquanto a imagem mostra uma boca dizendo “bah”, as pessoas vão jurar que ouviram “bah”. Se você pedir que contem o número de vezes que uma luz pisca, e piscá-la sete vezes seguidas com uma sequência de oito sons de bip, as pessoas dirão que a luz piscou oito vezes.
Quando se depara com partes conflitantes de informação, o cérebro decide em qual sentido confiar. No primeiro cenário, aqueles lábios se movendo nunca poderiam articular um “d”, então a visão reivindicou a supremacia. Porém, em questões que demandam uma análise temporal, e racionalizar sons similares numa sequência, o cérebro instintivamente se apóia na audição.
Clique clique clique. Você consegue ouvir uma série de cliques a vinte batidas por segundo e saber que são cliques separados, e não um tom contínuo. Agora, passe uma série de imagens juntas a vinte quadros por segundo – pronto, bem-vindo ao cinema. “A resolução temporal de nossa visão”, disse Barbara Shinn-Cunningham, da Universidade de Boston, “é de uma ordem de magnitude mais lenta do que nosso sistema auditivo pode lidar”.
É fácil considerar a audição como verdadeira, aquela esparramada Babilônia estereofônica onde os portões nunca se fecham e há plataformas para todos. Você pode fechar seus olhos contra um sol brilhante demais, ou desviar o olhar de uma cena desagradável. Todavia, quando o soprador de folhas de alguém faz disparar o alarme do carro do vizinho, ei, onde estão meus tampões de ouvido? Fomos chamados de primatas visuais, e o tamanho de nosso córtex visual impede o crescimento da plataforma neural designada para a audição. A maior parte das pessoas, quando questionada, afirma que preferiria perder a audição do que perder a visão.
Ainda assim, em maneiras que os pesquisadores estão apenas começando a avaliar, nós humanos deveríamos ficar agradecidos às nossas orelhas. De forma mecânica, elétrica, comportamental e cosmética, nosso par de placas sonoras é um genuíno marco auditivo de nossa espécie. Se algumas palavras soam parecidas, elas deveriam mesmo soar, pois nossos ouvidos e bocas, em conjunto, nos deram a voz.
Hoje, cientistas suspeitam que a origem da linguagem humana se deva tanto a melhorias nos primeiros ouvidos hominídeos quanto a estímulos mais familiares, como uma laringe sendo alterada ou mesmo um cérebro se expandindo no geral.
Em recente análise molecular, John Hawks, da Universidade de Wisconsin, relatou que oito genes, envolvidos em moldar o ouvido humano, parecem ter sofrido mudanças significativas durante os últimos 40 mil anos, algumas tão recentes quanto o surgimento do Império Romano. Somente com infraestrutura auditiva altamente refinada, dizem os pesquisadores, nossos ancestrais poderiam ter se afinado ao tipo de minúsculas flutuações em ondas de pressão que caracterizam toda a fala humana, sem mencionar o latim conjugado corretamente.
Adicionalmente, a avidez com que nosso sentido auditivo busca organizar o ruído ambiente em padrões acústicos significativos – uma consequência provável de nossa dependência da linguagem – poderia ajudar a explicar nossa musicalidade distintamente humana.
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